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Homilia do Papa Francisco na missa da Jornada das Famílias,
em 27/10/2013

(Leituras da missa: 1a Leitura: Eclo 35,15b-17,20-22a; 2a Lei­ tura: 2Tm 4,6–8,16-18; Evangelho: Lc 18,9-14.)(Leituras da missa: 1a Leitura: Eclo 35,15b-17,20-22a; 2a Lei­ tura: 2Tm 4,6–8,16-18; Evangelho: Lc 18,9-14.)

As leituras deste domingo nos convidam a meditar sobre algu­ mas características fundamentais da família cristã.

1. A primeira: a família reza. A passagem do Evangelho desta­ca dois modos de rezar: um falso – o do fariseu – e outro autên­tico – o do publicano. O fariseu encarna uma postura que não ex­pressa tanto agradecimento a Deus pelos seus benefícios e pela sua misericórdia, como, sobretudo, autossatisfação. O fariseu se sente justo, se sente com a consciência tranquila, se vangloria disto e julga os demais do alto do seu pedestal. O publicano, ao contrário, não multiplica as palavras. A sua oração é humilde, sóbria, permeada pela consciência da própria indignidade, das próprias misérias: este homem verdadeiramente se reconhece necessitado do perdão de Deus, da misericórdia de Deus.

A oração do publicano é a oração do pobre, é a oração agradá­vel a Deus que, como fala a primeira leitura, subirá até as nuvens (cf. Eclo 35,20), enquanto a oração do fariseu está sobrecarrega­ da pelo peso da vaidade.

À luz desta Palavra, queria vos perguntar, queridas famílias: Rezais algumas vezes em família? Alguns, eu sei que sim. Mas muitos me perguntam: Mas como se faz? Faz-se como o publi­cano, está claro: com humildade, diante de Deus. Cada um, com humildade, se deixa olhar pelo Senhor e pede a sua bondade, que venha até nós. Mas, na família, como se faz? Porque parece que a oração é uma coisa pessoal; além disso, nunca se encon­tra um momento oportuno, tranquilo, em família… Sim, isso é verdade, mas é também questão de humildade, de reconhecer que precisamos de Deus, como o publicano! E todas as famílias, todos nós precisamos de Deus: todos, todos! Há necessidade da sua ajuda, da sua força, da sua bênção, da sua misericórdia, do seu perdão. E é preciso simplicidade: para rezar em família, é necessário simplicidade! Rezar juntos o Pai­-Nosso, ao redor da mesa, não é algo extraordinário: é fácil. E rezar juntos o terço, em família, é muito belo; dá tanta força! E também rezar um pelo outro: o marido pela esposa; a esposa pelo marido; os dois pelos filhos; os filhos pelos pais, pelos avós… Rezar um pelo outro. Isto é rezar em família, e isto fortalece a família: a oração.

2. A segunda leitura nos sugere outro ponto: a família guarda a fé. O apóstolo Paulo, no ocaso da sua vida, faz um balanço fundamental, e diz: “guardei a fé” (2Tm 4,7). Mas como a guar­dou? Não em um cofre! Nem a escondeu debaixo da terra, como o servo um pouco preguiçoso dos talentos. São Paulo compara a sua vida com uma batalha e com uma corrida. Guardou a fé, porque não se limitou a defendê­-la, mas a anunciou, irradiou­-a, levou­-a longe. Opôs­se de modo decidido àqueles que queriam conservar, “embalsamar” a mensagem de Cristo nos limites da Palestina. Por isso, tomou decisões corajosas, penetrou em terri­tórios hostis, deixou-­se atrair pelos que estavam longe, por cultu­ras diferentes, falou francamente, sem medo. São Paulo guardou a fé, porque, como a tinha recebido, assim a entregou, dirigindo­-se às periferias, sem se fincar em posições defensivas.

Aqui também, podemos perguntar: De que modo nós, em fa­mília, guardamos a nossa fé? Conservamo-­la para nós mesmos, na nossa família, como um bem privado, como uma conta no banco, ou sabemos partilhá-­la com o testemunho, com o acolhi­mento, com a abertura aos demais? Todos sabemos que as fa­mílias, sobretudo as jovens famílias, estão frequentemente “cor­rendo”, muito atarefadas; mas já pensastes alguma vez que esta “corrida” pode ser também a corrida da fé? As famílias cristãs são famílias missionárias. Ontem escutamos, aqui na praça, o testemunho de famílias missionárias. Elas são missionárias tam­bém na vida cotidiana, fazendo as coisas de todos os dias, colo­cando em tudo o sal e o fermento da fé! Guardai a fé em família e colocai o sal e o fermento da fé nas coisas de todos os dias.

3. E há um último aspecto que tiramos da Palavra de Deus: a família vive a alegria. No Salmo responsorial, encontramos esta expressão: “ouçam os humildes e se alegrem” (33,4). Todo este Salmo é um hino ao Senhor, fonte de alegria e de paz. Qual é o motivo desta alegria? É este: o Senhor está perto, escuta o grito dos humildes e os liberta do mal. Como escrevia São Pau­lo: “Alegrai-vos sempre… O Senhor está próximo!” (Fl 4,4-5). Pois bem… gostaria de fazer uma pergunta hoje. Mas cada um leve esta pergunta no seu coração, para a sua casa, certo? É como um dever de casa. E respondesse sozinho. Como se vive a alegria na tua casa? Como se vive a alegria na tua família? Bem, dai vós mesmos a resposta.

Queridas famílias, como bem sabeis, a verdadeira alegria que se experimenta na família não é algo superficial, não vem das coisas, das circunstâncias favoráveis… A alegria verdadeira vem da harmonia profunda entre as pessoas, que todos sentem no coração e que nos faz sentir a beleza de estarmos juntos, de nos apoiarmos uns aos outros no caminho da vida. Mas, na base deste sentimento de alegria profunda, está a presença de Deus, a presença de Deus na família, está o seu amor acolhedor, miseri­cordioso, cheio de respeito por todos. E, acima de tudo, um amor paciente: a paciência é uma virtude de Deus e nos ensina, na família, a ter este amor paciente, um com o outro. Ter paciência entre nós. Amor paciente. Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos, apaga­-se a alegria. Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-­a es­pontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.

Queridas famílias, vivei sempre com fé e simplicidade, como a Sagrada Família de Nazaré. A alegria e a paz do Senhor estejam sempre convosco!